Você já ouviu falar da banda japonesa MYTH & ROID? Creio que sim, pois embora não seja das mais badalas (ainda!) sua participação em canções de animês nos últimos anos vem sendo bem aproveitada. Atuando em shows como Youjo Senki (2017) e Re:Zero – kara Hajimeru Isekai Seikatsu (2016) a banda conquistou o interesse desse que vos escreve ao apresentar um impregnado de synth rock (denominado pelo grupo como digital rock) e industrial rock com fortes referências de psytrance, principalmente nos conjuntos sonoros de samplers e remixes casados com as letras das canções.

A MYTH & ROID na verdade é um conjunto musical liderado pelo produtor musical Tom-H@ck (Ososhima Tomoshiro) uma das mais badalas figuras no universo das animesongs atuando em mais de 20 produções como compositor, arranjador ou interpréte. Alguns de seus trabalhos incluem Diamond no Ace (arranjo e composição), K-On! (arranjo e composição), Katekyo Hitman Reborn! (arranjos). Além da MITH & ROID, Tom-H@ck também atua no duo OxT, responsável pelos dois temas de abertura da franquia Overlord.

O centro nervoso da MITH & ROID é dividido com a compositora e produtora hotaru que cria as histórias das faixas musicais do grupo – que são sempre contextualizadas em narrativas embasadas nos gêneros sci-fi, thriller, cyberpunk e dark fantasy –.

Atualmente o grupo está no ar com o tema de encerramento "HYDRA" no animê Overlord II. A faixa é o sexto single do conjunto e o primeiro de uma nova fase. Sim, nova fase! A MITH & ROID foi formada em 2015 e debutou com o single “L.L.L.” que foi o tema de encerramento de Overlord.

 

 

Essa primeira fase contou com a interpretação vocal da cantora Mayu, que em 2017 se desvinculou da banda para seguir carreira solo. Tudo isso não antes de participar do primeiro álbum de estúdio da MYTH & ROID: eYe’s. O trabalho que dá título a esse artigo reúne o melhor do trabalho de dois anos da primeira formação do conjunto de J-Pop e traz uma sonoridade muito sintetizada e marcada por momentos de elipses narrativas para a fantasia de distopia e o scifi de horror em poemas recitados ou refrões eletronicamente pulsantes com efeitos vocais de sintetização nítidos e recorrentes. O álbum tem dois vieses e também traz harmonia de impacto mais suave fazendo jus ao estilo pop-rock japonês atual como em outros grupos como GARNiDELiA e Egoist (ou mesmo a sonoridade presente no álbum 2V-ALK de Hiroyuki Sawano).

O nome da banda faz referências ao estados do Passado (daí a ideia de Mitologia) e o Futuro (na referência aos Androides) e faz isso também nas letras e arranjos.

Na mais recente fase da MYTH & ROID a vocalista KIHOW assume o lugar de Mayu e inicia uma fase bem mais dark (aparentemente) e com muito mais rock e passagens em inglês no último single lançado no mês passado. Além do tema de encerramento de Overlord II, “Stormy Glory” é a segunda canção do single e faz parte da OST do animê.

Mas vamos falar do álbum eYe’s. lançado em 26 de abril de 2017 ele reúne uma coletânea de doze faixas musicais e duas faixas de declamações poéticas inspiradas na literatura sci-fi.

 

(Capa do álbum eYe's. Fonte: Site oficial)

 

As faixas de animê

No geral, o álbum conta com sete canções que são temas de abertura e/ou encerramento em animês exibidos entre 2015 e 2017. Entre elas:

 

L.L.L. (faixa n°11) ~ que foi o tema de encerramento de Overlord em 2015;

Anger/Anger (faixa n°07) ~ que foi tema de encerramento de BBK/BRNK (Bubuki/Buranki) em 2016;

Styx Helix (faixa n°04) ~ que foi o primeiro tema de encerramento de Re:Zero em 2016;

Paradisus-Paradoxum (faixa n°03) ~ que foi o segundo tema de abertura de Re:Zero em 2016;

Theater D (faixa n°08) ~ que foi tema de encerramento do episódio 14 de Re:Zero em 2016;

JINGLE JUNGLE – HBB Remix (faixa n° 09) ~ que foi o tema de abertura de Youjo Senki em 2017;

Crazy Scary Holy Fantasy (faixa n°10) ~que foi tema do filme Overlord: Fushisha no Ou em 2017;

 

Com exceção de "Theater D", todas as demais são canções títulos dos cinco primeiros singles do grupo. A canção "JINGLE JUNGLE" é a única que no álbum é repaginada sendo apresentada num formato de remixagem bem no meio do CD tornando a escuta muito mais prazerosa.

 

"Paradisus-Paradoxum" é sem dúvida a mais emocionante. A referência deixada pela animação de Re:Zero ajuda a canção a ficar como chiclete na mente e o refrão que abre a faixa tem uma tensão bem mais assombrosa do que se imagina.

 

"L.L.L." e "Styx Helix" cumprem seus papéis como temas de encerramento e ficam bem apresentáveis no álbum. A primeira só não abre o trabalho porque o grupo escolhe uma maneira mais impactante de fazê-lo que será comentada mais a frente.

 

"Anger/Anger" tem uma pegada tecno que marca o compasso característico das animesongs da última década e surpreende como uma sonoridade bem empolgante para o j-pop. "Theather D" é mais carregada de elementos de industrial rock e faz um dinamismo entre um sampler eletrônico e a guitarra. O vocal de Mayu é cheio de autotunes que ditam o ritmo.

 

"Crazy Scary Holy Fantasy" – que foi tema do primeiro filme de Overlord – é a mais engajada no industrial rock.

 

As faixas inéditas

O álbum eYe’s conta com cinco canções inéditas que a banda não havia apresentado em nenhum outro single lançado anteriormente. São elas:

 

TRAGEDY:ETERNITY (faixa n°02)

Yuki o Kiko yoru (faixa n°05)

Tough & Alone (faixa n°06)

sunny garden sunday (faixa n°11)

-to the future days (faixa n°12)

 

Desse grupo de seus canções, "TRAGEDY:ETERNITY" é a mais legal de todas. Não a toa foi à faixa de trabalho para divulgação do álbum e – me arrisco a dizer – é a melhor música de todo o projeto. Das seis é a única que ganhou clipe oficial. Com um refrão gostoso e agitado, "TRAGEDY:ETERNITY" não perde a levada sombria impressa pela MYTH & ROID, mas revela uma criatividade de Tom-H@ck e hotaru em trazer um syth rock mais engajado nas raízes asiáticas do pop.

 

 

Como já é de costume a Otaku JukeBox não fará o review completo do álbum – até porque você tem que ouvir para tirar sua opinião -, mas o que posso dizer das cinco restantes é que "Tough & Alone" é marcada pelo psytrance numa canção interpretada com exageros de autotunes. A canção "sunny garden sunday" é a faixa que foge totalmente da pegada do álbum nos trazendo uma sonoridade colorida e cheia de sintetizadores. Por fim, "-to the future days"  e "Yuki o kiko yuro" tem uma pegada de j-pop altamente sintetizada e a maior cara de ending song.

 

As faixas declamadas

O álbum – como disse antes – conta com duas faixas declamadas que são o diferencial proposto por hotaru. Embriagadas de uma literalidade gótica com insights de thriller e sci-fi. São elas:

 

– A beginning  (faixa n°01)

– A ending – (faixa n°14)

 

 

Na faixa "- A beginning -" vemos uma narrativa sobre a construção nada conservadora de um artefato tecnológico para um certo alguém. As novidades desse artefato são descritas nos acontecimentos narrados ao longo do álbum. Confira:

 

In the depths of a ruin, an ocularist discovered a rainbow-colored stone.

(No fundo de uma ruína, um oculista descobriu uma pedra de arco-íris.)

 

"Is this a petrified human eye…?"

("Isso é um olho humano petrificado …?")

 

It was the most beautiful eye he had ever seen, and it seemed as if to stare back into his eyes.

(Era o olho mais lindo que já havia visto, e pareceu olhar para seus olhos.)

 

"I shall make it my life's work to surpass this beauty"

("Eu tornarei o trabalho da minha vida superar essa beleza")

 

He brought the stone eye back to his atelier, And before long, he came to feel as though the eye manifested emotions. At times it seemed to shine happily or lovingly; other times longingly, As if it still harbored feelings from the distant past… The ocularist tried to copy it and create an artificial eye, but…

(Ele trouxe o olha de pedra de volta ao seu ateliê, e, em pouco tempo, ele sentiu como se o olho manifestasse emoções. Às vezes parecia brilhar alegremente ou amorosamente; outras vezes, como se ainda abrigasse sentimentos do passado distante … O oculista tentou copiá-lo e criar um olho artificial, mas …)

 

"It's still not enough…? Even though I have sacrificed my body and soul for this work…"

("Ainda não é suficiente …? Embora eu tenha sacrificado meu corpo e minha alma por este trabalho …")

 

He began to feel overwhelmed by various emotions: Love, nostalgia, loneliness, anger, hate, heartbreak… A rush of emotions that had broken her heart. And then he noticed ― Reflected in a mirror, his own eye, too, gleamed with the colors of the rainbow.

(Ele começou a se sentir sobrecarregado por várias emoções: Amor, nostalgia, solidão, raiva, ódio, desgosto … Uma onda de emoções que haviam quebrado seu coração. E então ele percebeu – refletido em um espelho -, seu próprio olho, também, brilhou com as cores do arco-íris.)

 

O grupo MYTH & ROID tem outras boas canções além dessas que já emplacaram sucesso como é o caso de "Straight Bet", que foi tema de encerramento do sétimo episódio de Re:Zero.

Você pode ouvir o álbum eYe’s completo clicando aqui. A banda possui outras canções além das citadas e você pode encontra-las no Youtube. O certo é que MYTH & ROID tem tudo para se tornar um sucesso em animesongs e seu retorno em Overlord II pode ser a deixa para – quem sabe – aparecer também na trilha sonora de uma futura continuação de Re:Zero.

Até a próxima e… Sayonara!