Sou um dos tantos loucos nesta internet da vida que se consideram fãs incondicionais de No Game No Life, light novel de autoria do nipo-brasileiro Thiago Lucas Furukawa, nosso querido Yuu Kamiya. Desde o grande sucesso que foi a primeira fase da animação, em 2014, acompanho a light novel que – de forma abençoada – foi lançada oficialmente no Brasil na mesma época pela NewPOP Editora.

Atualmente conto com todos os exemplares disponíveis já publicados no Brasil. As excessões são o volume 10, publicado no mês passado lá no Japão, e o gaiden Practical War Game (o qual eu e muitos outros vem atormentando a paciência de Júnior Fonseca e sua equipe para ser publicado por aqui, pois é uma light novel importante para o universo da franquia, mesmo que conte com alguns spin-offs).

O fã brasileiro ainda conta com o mangá e o mangá spin-off No Game No Life Desu! com as aventuras da Izuna. Por mim dispensáveis (tenho que saber fazer valer meu dinheiro na hora da compra), mas não desencorajo ninguém a compra. Como fã é um papel que se deve cumprir. Enfim, Toda essa enrolação é porque finalmente pudemos ver com qualidade o filme No Game No Life Zero, que é nada mais nada menos que uma versão adaptada do volume 06 da obra original publicado no Japão em 25 de abril de 2014 sobre o título "Parece que o Casal de Gamers Desafiou o Mundo".

E aqui já reside o primeiro plot twist – se assim podemos citar – na trama da light novel. Não se trata dos Irmãos Gamers e sim do Casal Gamer. Deixando o soft porn já característico da obra de comédia, ação, aventura, fantasia e ecchi, somos levados a uma Disboard de seil mil anos atrás onde a Grande Guerra entre as Raças Exceed acontece.

 

(Poster de divulgação de No Game No Life Zero)

 

Uma das muitas preocupações que tive quando do lançamento de No Game No Life Zero no ano passado era sobre a fidelidade da adaptação dos fatos. A Madhouse entregou um bom trabalho de adaptação na primeira temporada ao compilar do volume 01 ao 03 em treze episódios. Ficou bem organizado. O problema se isso se repetiria em um formato de mídia diferente.

Quando o filme foi revelado – sanando uma das minhas primeiras preocupações – soube que o volume 06 da light novel não seria ignorado. E nem podia! Num ato confessional bastante revelador sou tentado a dizer que dos novo volumes já lidos por mim até aqui ele sem dúvida é o melhor. Se você me permite uma escala de pontos de 1 a 5 joinhas o resultado é algo como:

 

Volume 01 – "Parece que os Irmãos Gamers vão Dominar o Novo Mundo" | 

Volume 02 – "Parece que os Irmãos Gamers estão De Olhos no País das Furries" | 

Volume 03 – "Parece que um dos Irmãos Gamers Desapareceu…" | 

Volume 04 – "Os Irmãos Gamers entram no Pior Jogos de Todos – O Amor!" | 

Volume 05 – "Parece que os Irmãos Gamers não Gostam de Jogos Novos" | 

Volume 06 – "Parece que o Casal de Gamers Desafiou o Mundo" | 

Volume 07 – "Parece que os Irmãos Gamers Vão Revolucionar o Mundo" | 

Volume 08 – "Parece que os Irmãos Gamers Vão Conseguir Executar sua Estratégia" | 

Volume 09 – Parece que os Irmãos Gamers vão Descansar por Um Turno" |  

 

Dito isso – para desencargo de consciência – o volume 06 fica na frente no critério desempate justamente pelo fato de distoar em 80% de todo o estilo dramático dos volumes anteriores sendo mais pesado, sombrio. Na light novel ainda há momentos de alívio cômico com algumas – mas bem poucas mesmo – cenas de ecchi e fanservice, que são como uma marca do próprio Yuu Kamiya.

Já nos 106 minutos de longa-metragem tudo isso foi reduzido a um mínimo de duas cenas mais leves (e sem soft porn) para destacar os momentos de drama e tensão presentes no volume adaptado. Uma sábia escolha de Ishizuka Atsuko, diretora do filme, que já responde por bons trabalhos na própria animação da série de TV de No Game No Life, além de Sakurasou no Pet na Kanojo e participações como diretora de epsisódio em Chihayafuru e Nana. Em 2018 seu trabalho mais recente é no animê Sora yori mo Tooi Basho, que está em exibição na Temporada de Inverno.

Ishizuka Atsuko captura todos os melhores momentos da light novel e é quase correto afirmar que se não fosse por essas poucas cenas de alívio cômico com ecchi cortadas (mas que são totalmente dispensáveis!) a versão de cinema do volume 06 foi 99% fiel.

os cinco atos das light novel são deliberadamente estruturados e marcados por suas cenas chave com a carga dramática necessária. Destaques aqui para o sacrifício de Ivan perante a criatura da raça Demonia, o descontrole de Riku diante das perguntas racionalizadas de Schuwi [estarei usando essa grafia, a mesma usada na versão brasileira da light novel], Schuwi contra a armadilha de segurança dos Elfos, o pedido de casamento feito por Riku e a luta de Schuwi contra Djibril são todas excelentemente bem animadas tanto no character design quanto no background design criando movimentação bem coerente e que com certeza foram bem melhor apreciadas na telona rendendo méritos ao animador Satoshi Tasaki.

Outro ponto alto no filme é a boa atuação de Yushitsugu Matsuoka e Ai Kayano. A dupla, que já empresta suas vozes para Sora e Shiro, fazem uma conexão excelente entre os heróis do presente com os heróis do passado dando a Riku e Schuwi a tensão emocional presente no agir e falar de cada um deles. Bem diferente com o descompromisso e a irreverência dos protagonistas originais da trama.

No quesito Som a produção contou com um bom trabalho em Edição e Mixagem feito por Jin Akategawa. O sound designer consegue reproduzir com bastante intensidade as explosões e as ativações de magia e equipamentos mágico-eletrônicos. Dando uma ambientação sonora perfeita para o clima steampunk apocalíptico do longa-metragem. Completa essa categoria a profundidade dos temas musicais da OST de Yoshiaki Fujisawa com presença de elementos de cordas (violinos e violoncelos) pesados e tensos acompanhados de um piano reservado em alguns momentos, mas sempre dono da situação. Os ataques e melodias sinfônicas revezam entre momentos de harmonia do apaixonante casal chave e os momentos de horror, tristeza e ação durante toda a duração do filme. Konomi Suzuki dá o toque final com o themesong "THERE IS A REASON", que é muito próximo do tema de abertura da série de TV, mas que traz uma melodia mais suave com letra reconfortante nos momentos finais.

 

(Makking-off das gravações de "THERE IS A REASON" )

 

Como fã fico muito satisfeito com o resultado obtido no longa-metragem e considero a adaptação como um bom ponto positivo para a franquia de um modo geral. Responder a anseios de fãs com um filme adaptado da trama original só foi possível, no entanto, graças a inventividade de Yuu Kamiya que foi bem esperto ao inserir uma prequel inteira no fim de um arco e utilizar-se dela como o fio introdutor ao novo arco sem precisar diluir as informações nos diálogos complicados e àz vezes ineficazes de Sora, Shiro e companhia. 

Para quem não leu a light novel ainda o que vem pela frente depois do fim é bastante cansativo em alguns momentos e divertidíssimos em outros enfrentando uma Old Deus e os ex-machinas. No geral mostram o talento de Yuu Kamiya em sempre pensar em um jogo diferente para desafiar a inteligência de suas próprias personagens exigindo que elas ultrapassem seus limites. Contudo antes disso você ainda terá que passar por outros jogos envolvendo raças exceeds como os dampires, seirens e flügels.

Se estiver preparado… Acciente!